sábado, 14 de setembro de 2013

Sobre a vida que nos foi imposta.

E cá estamos nós nessa frenética e, ao mesmo tempo, tão pacata vida. Podia ser tudo diferente. Eu sempre imaginei  como teria sido minha vida caso eu tivesse nascido em outra cidade, estado, país, planeta, galáxia... Acho que todo mundo, um dia, já pensou sobre isso. Seria tudo diferente. Talvez nem fosse.

Nascer em outro lugar implicaria uma nova cultura. Uma nova forma de ver as coisas, novos alimentos, novas expectativas, novas rotinas. Mas o cotidiano sempre existiria. O dia a dia monótono e tão agitado que inquieta e nos dá o direito de dormir cinco a seis horas diariamente, enquanto todos os sabedores e estudiosos nos recomendam oito.

Mas sempre surge a questão da essência: o meu "eu" continuaria o mesmo? Eu teria as mesmas manias chatas, os mesmos tiques, os mesmos raciocínios vagos, a mesma capacidade de ficar pensando sobre o nada? Eu teria a mesma identidade?

Mas sempre surge a questão da identidade. Temos ou não temos uma? Os teóricos da Psicologia do Desenvolvimento teimam em tentar dividir a vida em etapas, em ciclos. Não de forma cronometrada ou estanque. Períodos sem limites temporais estritamente definidos, mas períodos, fases. Parecem seguir uma tendência natural que também temos. Sempre achamos um modo de dividir nossa vida. Seja por lugares onde moramos, por pessoas com as quais convivemos, anos escolares e por aí vai. O problema de dividir em etapas está exatamente na dificuldade de definirmos quando terminamos uma e quando devemos iniciar outra.

Quando saindo da infância nos questionamos sobre o nosso lugar de adolescentes. Quando já beiramos os dezoito, dezenove ou vinte estamos quase enlouquecendo com o fato de não sabemos mais nos definir (jovem ou adulto). Entre a idade adulta e a velhice é a mesma querela. E o problema sempre é o mesmo: temos uma dificuldade, quase inata, de dividir nossa vida em etapas. A raiz desse entrave classificatório talvez seja a nossa incapacidade de realizar todas as tarefas que são esperadas em cada fase.

Claro, tudo isso é fruto de uma séries de fatores sociais, históricos e culturais, eu sei, já conseguiram me provar isso. Porém, esses fatores continuam nos atormentando. Apesar de saber identificá-los um a um, não consigo  me desvencilhar deles. E nos julgam. Tenha um adulto atitudes infantis e sentirá, na pele,o peso de sua transgressão. É um pecado quase mortal. Um dia falarei sobre pecado, deixa pra lá.
 
Além de não escolhermos nosso local de nascimento, não podemos escolher por qual idade começar a vida. Será que nascermos adultos não seria melhor?! Tá, chega de loucuras numa manhã ensolarada de sábado. No fim, nos resta viver. Do nosso modo torto e meio esquizofrênico, numa constante queda de braço entre obrigações e prazeres; entre necessidades e desejos. Devemos viver. Acho que podemos dar umas escapadinhas vez por outra. Pular os ciclos, voltar as etapas, redescobrir o que nem chegamos a descobrir. A vida nos foi imposta, mas não devemos encará-la como um fardo.

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