Quando descobrimos que o nosso
mundo é o nosso mundo, tudo muda. Antes disso, temos a impressão de que
partilhamos algo com os outros, com os nossos. Acreditamos na existência de
algo comum. Numa cumplicidade quase transcendental, capaz de nos ligar uns aos
outros de forma a nunca estarmos separados. Porém, estamos.
Primeiro, tem a separação do
parto. Essa é a pior, segundo os especialistas. Saímos do nosso mundo de
conforto e segurança, livres de toda aflição e preocupação. Podemos nos
movimentar, mas a “prisão” era bem mais confortável, aconchegante, aquecida e hospitaleira.
Temos a imensidão do mundo, mas a
pequenez daquele espaço era mais do que suficiente.
Vamos crescendo e os “partos” vão
mudando. Sempre nessa perspectiva de alcançarmos espaços cada vez mais amplos,
porém angustiantes. O anterior sempre parece mais confortável. Nossa mente
teima em permitir ao nosso corpo assentar-se sob nova base. Nada parece seguro
e a própria insegurança torna-se o escudo. Os passos para frente devem ser meticulosamente
pensados. Os artifícios de sobrevivência são de uma envergadura quase bélica. Apesar do espaço ampliado, queremos a
segurança de um pequeno canto, seguro, aquecido, confortável. Vivemos com medo. Nada mais primitivo e sábio.
De um ponto de vista nada
pedagógico, a educação é uma forma de impor limites, colocar freios, mostrar o
quão ruim pode ser uma coisa, caso você não esteja preparado para ela. Somos
educados para temer. E, nesse aspecto, a educação cumpre muito bem o seu papel.
O grande problema está no nosso total despreparo ao lidarmos com uma situação
nova, diferente, não pensada, não estudada, não descrita. É paralisante.
Já devíamos estar acostumados a
tudo isso. Afinal, tantos anos se passaram e tantas novas situações surgiram...
Careceria ser uma coisa meio que natural, ou adquirida. É uma pena não “pegarmos
o jeito”. Nunca pegamos. Como não podemos prever, não podemos prevenir.
A ideia de caminhar sob um solo
minado é aterradora. Imagine como deve ser assustador não saber se o seu
próximo passo conduzirá a morte. De forma injusta e inesperada é como se o
caminhante trilhasse o caminho para a própria destruição. A metáfora com a vida
surge de forma quase imediata. É inevitável não vermos as características em
comum. A grande diferença é que no campo minado quem coloca as bombas são os
inimigos. Na vida nem sempre é assim, aliás, na maioria das vezes não é.
O bom disso tudo é que sempre
podemos encontrar novos caminhos. A amplitude do novo paralisa, mas também pode
ampliar nosso raio de ação. Pode nos fazer correr. Os limites de antes não são
os mesmos, mas existem. Numa terra inexplorada qualquer nova caminhada pode
levar a uma paisagem diferente, nova, única. Só é preciso atenção e cuidado. Lembrando
sempre que a novidade para nós apresentada, pode não passar de um caminho velho
e abandonado.
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