terça-feira, 17 de setembro de 2013

Sobre os que foram e os que serão.

Eu não acho que a juventude de hoje esteja desorganizando a sociedade. Ouvi isso num sermão esses dias. Na verdade, não é bem a juventude, é o afastamento que os jovens têm da religião e de Deus. É um assunto complicado, polêmico, controverso e inquietante. Eu gosto desses assuntos.

A sociedade nunca foi organizada. Mesmo com todas as tentativas frustradas já encabeçadas pelas mais diversas instituições sociais, nunca houve essa moral e bons costumes tão “perdidos” atualmente. Os jovens sempre assumem um papel subversivo, parece algo meio intrínseco a idade. Os 15, 16, 17 são anos voltados para os conflitos internos, para nossas questões. Já depois dos 19 parece que passamos a nos importar mais com questões de cunho global, geral. Deixamos um pouco de lado os conflitos amorosos (típicos da adolescência) e o interesse se volta para os ideológicos. É o tempo de entrar na universidade e ficar perdido.

À medida que nos aproximamos de novas ideias, vamos nos afastando das velhas. A religião é uma velha ideia, tão velha quanto à existência do homem. Temos muito a aprender com as coisas velhas.  Também  temos muito a ensinar. Apesar de, cada vez mais, sofrermos com o lugar de meros aprendizes. Devemos ter a cabeça baixa e os ouvidos atentos. Caso contrário, é como se estivéssemos destruindo tudo  aquilo que nossos antepassados lutaram  tanto para construir.

Ouvi de uma educadora num programa de televisão no qual se discutia sobre a qualidade da educação brasileira que a escola atual não tem capacidade de formar uma geração. Daqui a 20 anos serão os jovens de hoje a levar esse país nas costas. Mas os jovens de hoje não estão preparados, nem se preparando. Não saberemos conduzir o futuro dessa nação. Aliás, “... nem sentimento patriótico eles tem.” - era o lamento da senhora com cabelos brancos que, ao mesmo tempo, pedia aos professores para ouvir a voz dos alunos adolescentes. Eu fiquei confuso. Eles dizem que não sabemos, mas querem nos ouvir. Dizem que sabem, que foram, que fizeram, que eram, mas não nos deixam ser, fazer, tentar.

Eu não acho que eles tenham conquistado grandes coisas para o Brasil, assim como a religião não tem feito grandes coisas pela humanidade, e tem. Podemos pensar como pensamos por causa deles e dela. Afinal, com o que nos revoltaríamos se eles e ela não existissem?

Sobre religião é mais perigoso falar. Muitos ficam inflamados, muitos aplaudem e muitos olham com preconceito. É tema que não pode ser discutido. Apelam logo para o campo da fé e esse é um assunto impassível de discussão. Eu, mais uma vez, não concordo. Acho que fé se discute, assim como política, futebol e gosto musical.

Mas porque estou falando tudo isso? Eu tenho visto uma tendência na juventude da qual faço parte de separar as coisas. De colocar tudo em janelas. Em pastas. Você não pode ser eclético. Tem que ser isso ou aquilo. Religioso ou ateu. Direita ou esquerda. Rock ou forró. Cerveja ou vodka. Ribeira ou Só Mais Uma. E por aí vai. Esse não é o caminho. Um caminho já percorrido por gerações anteriores e pregado pela religião (ou Deus ou nada). Já deveríamos ter superado essa dicotomia. Já deveríamos ter procurado novas formas de encarar esses velhos dilemas. Formas mais inclusivas. Menos deterministas.


A religião e muitos pensamentos antiquados que tentam enquadrar, organizar, determinar, impor, deveriam nos servir como espelho para o “não ser”. É uma pena não conseguirmos nos desvencilhar dessas nefastas influências. O museu das grandes novidades está aberto para exposição. Só precisamos olhar, observar, não é preciso roubar nada.  

Um comentário:

  1. Mais uma vez, excelente texto.
    Incrível como reflete o que venho pensando nos últimos tempos. Dos jovens, os velhos tudo cobram, mas a real esperança é de que nada façam. Sim, o que a maioria deles querem é que realmente não façamos nada, pra que possam prazerosamente afirmar "eu já sabia"... Paradoxalmente, a juventude atual, a do iogurte, parece estar mais preparada e disposta a mudar o presente do que estavam os velhos atuais quando tiveram sua chance. É engraçado, e mais uma vez paradoxal, perceber que somente após nos distanciarmos dos "valores" até então tão cultuados as coisas começaram a mudar, e pra melhor. A igreja, com toda a sua força, não parece ter feito muito esforço pra alterar o sistema de dominação que vem subjugando os mais fracos há séculos. A explicação para isso é uma pergunta meio óbvia: não é esse o sistema que lhe sustenta?
    A máxima "fé não se discute" fora criada de forma consciente e com um propósito muito claro. Ora, é muito interessante que não se debata sobre o assunto, afinal, pessoas mudas não mudam. E pra quem está lucrando com o sistema não há necessidade de mudança.
    Acredito na "juventude baderneira" e desconfio profundamente dos discursos moralistas do mais velhos. Sou muito mais crente(!) nos [des]valores de hoje do que na hipocrisia de ontem.
    Troquemos os tempos de paz (paz de poucos e sofrimento de muitos) pelos ventos edazes da revolução.

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