Nostalgia é uma coisa que todo mundo tem. É uma das características
que nos faz humanos. Aquelas lembranças; o recordar de momentos e fatos
passados; as ditas coisas que não voltam mais. Foram-se. As memórias são coisas
engraçadas. Sempre que queremos esquecer uma situação, seja por nos fazer
sofrer ou simplesmente por que não queremos lembrar, lembramos. Já quando
queremos lembrar, esquecemos. É um eterno conflito.
Somos nostálgicos por acharmos que nunca mais poderemos
viver aquele momento novamente. E,
realmente, não podemos. Não podemos mesmo. Primeiro, por que a data não será a
mesma. Segundo, por que estabelecemos que o tempo segue uma sequência temporal.
Sempre para frente. Além disso, Heráclito, filósofo grego, do alto do Olimpo de
sua sabedoria, alguns séculos antes de Cristo, disse uma das frases mais
acertadas da história da humanidade: “Um homem nunca passa duas vezes no mesmo
rio”. Heidegger complicou tanto, escreveu livros e mais livros com a única intenção
de dizer a mesma coisa.
Caso não tivéssemos inventado o tempo como o inventamos;
caso inventássemos uma máquina do tempo, não seriamos nostálgicos. Aí, também,
deixaríamos de ser humanos. Mas do que
valem as lembranças se não podemos revivê-las? Do ponto de vista evolutivo a
capacidade de memorizar foi o que nos possibilitou sobreviver. Já imaginou se o
homem que lutou com um urso e venceu não lembrasse o quão perigoso pode ser
esse animal? Essa mesma memória nos possibilita conviver (pois lembramos as
palavras), cantar (lembramos a melodia das músicas), passar no vestibular (ou
não, por que nem todo mundo é obsessivo o suficiente para decorar a tabela
periódica, ainda bem) e fazer milhares de outras coisas que gostamos.
Mas, tem a coroa. O outro lado da moeda. Lembramos também
fatos tristes. Lembramos, inclusive, fatos que não existiram, frutos da nossa
imaginação e que adquiriram o estatuto de realidade. Temos lembranças de coisas
que não vivemos. Temos saudades de pessoas e de períodos de tempo.
Quando lembramos, revivemos. Cada vez que contamos a nós
mesmos uma história, aumentamos um ponto. É bom lembrar. Não raras vezes é
melhor esquecer. Mas o esquecer só existe numa correlação com o lembrar. Como
saber se esquecemos, já que não lembramos? Quando esquecemos, não lembramos, nem
lembramos que esquecemos. Então, nunca sabemos quando esquecemos. Só sabemos,
quando lembramos. O esquecer não pode ser mensurado.
As próximas gerações, a dos nossos tataranetos, não saberá
que nós existimos. Assim como não sabemos (pelo menos a maioria de nós) quem
foram nossas tataravós. Seremos esquecido, mais do que lembrados. Nossas
lembranças não perdurarão. Essa é outra coisa que nos faz humanos e, ao mesmo
tempo, nos desumaniza.