Todo mundo quer sair do
anonimato. As redes sociais estão aí provando isso. Cada um, a seu modo, tenta
mostrar o quão interessante é sua vida. É uma espera ansiosa para saber quantas
curtidas ou compartilhamentos um comentário, vídeo ou foto merece. Não estou
falando em tom crítico, nem questionando a grandeza de tal empreitada. Mas, é
assim
.
Esse sair do anonimato envolve
uma questão mais básica do ser humano que é a necessidade de aceitação. A
sociedade é esse monstro que aniquila os menos vistos e acaba com a autoestima
dos menos bem relacionados. Criaram-se regras e critérios bem seletivos (ou
não) para definir a estratificação do status no mundo virtual. Podíamos ter
feito diferente. Já vimos, no mundo real, o quanto a diferenciação por classes
é injusta e perversa. Mas não. Teimamos em reproduzir.
Não estou defendendo o socialismo
virtual. Até por que, o direito de curtir ou não uma postagem deve ser
respeitado. Mas, é sempre assim. Parece natural competirmos. Mesmo quando temos
a possibilidade de incluir, preferimos excluir. A internet tornou-se um campo
de guerra, minado. Os pontos de vista são defendidos com tanto afinco e de
forma tão pesada que, por vezes, chega a assustar. É uma guerra fria.
De um lado os religiosos, do
outro os não crentes. De um lado os revolucionários, do outro os reacionários.
De um lado os capitalistas, do outro os socialistas. E por aí segue. Até o compartilhar
guarda, de forma quase rancorosa, a defesa velada de certos posicionamentos. Compartilhamos
buscando afirmação. Perdeu-se o sentido dessa palavra no mundo virtual. Aliás,
não só nele.
Na verdade, não temos como
definir um vencedor nessa batalha. Não há um prêmio. Milhões de curtidas não
garantem um futuro de visibilidade. É tudo instantâneo, dura três minutos.
Quando muito, pode durar quatro ou cinco. No jogo das relações virtuais a
subjetividade dá espaço para a “aparência”. Podemos nos mostrar e transparecer
muitas coisas, inclusive, o que não somos. Mas tá valendo. Tudo depende de
quantas vezes será reproduzido.
Oremos pelo dia no qual as injustiças
virtuais sejam desfeitas. Podemos iniciar uma transformação por aqui e
reproduzir no mundo “real”. Se bem que está praticamente impossível separar os dois.
O limite já é, praticamente, inexistente. O que somos aqui é reflexo e reflete
o que somos lá fora. A diferença é que, no mundo real, as nossas afirmações de
identidade significam algo para além de um simples clique com o mouse.