domingo, 26 de maio de 2013

A realidade do mundo virtual.


Todo mundo quer sair do anonimato. As redes sociais estão aí provando isso. Cada um, a seu modo, tenta mostrar o quão interessante é sua vida. É uma espera ansiosa para saber quantas curtidas ou compartilhamentos um comentário, vídeo ou foto merece. Não estou falando em tom crítico, nem questionando a grandeza de tal empreitada. Mas, é assim
.
Esse sair do anonimato envolve uma questão mais básica do ser humano que é a necessidade de aceitação. A sociedade é esse monstro que aniquila os menos vistos e acaba com a autoestima dos menos bem relacionados. Criaram-se regras e critérios bem seletivos (ou não) para definir a estratificação do status no mundo virtual. Podíamos ter feito diferente. Já vimos, no mundo real, o quanto a diferenciação por classes é injusta e perversa. Mas não. Teimamos em reproduzir.

Não estou defendendo o socialismo virtual. Até por que, o direito de curtir ou não uma postagem deve ser respeitado. Mas, é sempre assim. Parece natural competirmos. Mesmo quando temos a possibilidade de incluir, preferimos excluir. A internet tornou-se um campo de guerra, minado. Os pontos de vista são defendidos com tanto afinco e de forma tão pesada que, por vezes, chega a assustar. É uma guerra fria.

De um lado os religiosos, do outro os não crentes. De um lado os revolucionários, do outro os reacionários. De um lado os capitalistas, do outro os socialistas. E por aí segue. Até o compartilhar guarda, de forma quase rancorosa, a defesa velada de certos posicionamentos. Compartilhamos buscando afirmação. Perdeu-se o sentido dessa palavra no mundo virtual. Aliás, não só nele.

Na verdade, não temos como definir um vencedor nessa batalha. Não há um prêmio. Milhões de curtidas não garantem um futuro de visibilidade. É tudo instantâneo, dura três minutos. Quando muito, pode durar quatro ou cinco. No jogo das relações virtuais a subjetividade dá espaço para a “aparência”. Podemos nos mostrar e transparecer muitas coisas, inclusive, o que não somos. Mas tá valendo. Tudo depende de quantas vezes será reproduzido.

Oremos pelo dia no qual as injustiças virtuais sejam desfeitas. Podemos iniciar uma transformação por aqui e reproduzir no mundo “real”. Se bem que está praticamente impossível separar os dois. O limite já é, praticamente, inexistente. O que somos aqui é reflexo e reflete o que somos lá fora. A diferença é que, no mundo real, as nossas afirmações de identidade significam algo para além de um simples clique com o mouse. 

sábado, 18 de maio de 2013

Sobre estudantes, carros e a ordem social.


Tenho muito orgulho de, faz 18 anos, ser estudante. Sempre tive. Não sei se é fruto de uma inclinação natural ou de algo construído socialmente, mas esse sentimento sempre se fez presente na minha vida, de 23 anos. Mas, não tenho orgulho da classe como um todo.

O corporativismo é uma das características mais definidoras da identidade de grupo. Quando fazemos parte de uma “organização social” tendemos, consciente ou inconscientemente, a defendê-la, até, de modo irracional. Sempre temos na manga algum bom argumento para usar, quando somos atingidos. E os que criticam também terão argumentos. Faz parte do jogo social, da dialética do convívio em sociedade.

A grande questão é analisar a quem serve nossa defesa. De qual lado nós estamos. Observem, não estou fazendo uma crítica ao capitalismo, nem defendendo o socialismo. Porém, é fato inegável a imensa estratificação social e política ordenadora das nossas relações sociais. Por mais convencedor, o ideal democrático é, em essencial, inviável num sentido estrito. Quem nos representa? Os reacionários dirão que somos nós os culpados, até por que fomos nós quem os colocamos no poder.  Eu diria que somos massa de manobra. E, aí de nós, se não formos.

Claro, “nós” é muita gente (o erro de concordância foi proposital). Tem gente que não é. Esses são os que sofrem por tentar abrir os nossos olhos. Apanham para depois nos regozijarmos dos nossos “direitos adquiridos” no conforto da nossa vida corrida e estressante. Por vezes, chego a pensar que existe sim um grande plano de aniquilação da liberdade humana. Gente que articula, planeja, orquestra ações e estratégias para retirar a nossa capacidade de tomar decisões. A maquiagem é tão forte que chegamos a pensar que decidimos e não percebemos que eles decidem por nós. Decidem onde devemos pisar, por onde devemos passar e de que lado da rua andar. Decidem, até, que podemos decidir.

Mas, voltemos aos estudantes. Como é difícil se desvencilhar dessa rede de acordos e amarras. Louvados sejam os que conseguem ver além do que está imposto. Louvados sejam os que assumem sua identidade de grupo e não se deixam enganar pelos discursos midiáticos e mantenedores da “ordem”. Hoje em dia, poucos são bem aventurados, a maioria não está nem aí. Prendem-se ao ideal romântico-burguês da vida tranquila e nem de longe conseguem se abster de pensar no “eu”. Estão do lado de lá.

Quando podemos dizer que nossa liberdade foi cerceada? Qual o limiar entre a imposição da força, pela força, e a manutenção da ordem? Aliás, a que serve a ordem? Claro, o convívio social necessita de uma organização. O problema é quanto tentam criar uma linha de montagem, na qual ninguém pensa no depois. Ninguém pensa no que vem antes. Colocam a roda do carro e não importa quem vai colocar o retrovisor. Que utopia essa minha. Vivemos num mundo, no qual a única pessoa importante é quem vai dirigir. E, pode ter certeza, vão te fazer acreditar e vão querer te convencer que você pode dirigir também. Mas aí, você será, apenas, mais um.

Eles nos ensinam a dirigir, mas criam ruas, colocam sinais, faixas, guardas, apitados, impõem limites de velocidade, fazem até faixa para pedestre. É para nossa segurança. É para que nos seguremos. Não teríamos discernimento se não fosse assim. Precisamos disso.

 E assim os estudantes acabam perdendo a capacidade de pensar fora do circuito. De adentrar  pelas estradas de barro. Prendem-se ao asfalto. Com medo de descobrir que, por baixo dele, tem terra batida.

quarta-feira, 15 de maio de 2013

Quando divagar é necessário.


Tem certos textos que não podem esperar. Eles ficam perturbando o nosso pensamento, nossa mente e não suportam, nem por um dia, a expectativa de sair dessa tão angustiosa morada que é o nosso universo consciente. Vem de não sei onde e não tem um destino certo. Perambulam pelas nossas atividades diárias e correm para o papel assim como corremos da chuva à procura de um lugar seguro, seco e que nos proteja do resfriado vindouro.

Eu fico imaginando como deve ser difícil a vida de quem não tem a experiência do ler, da leitura. Não, o texto não é sobre analfabetismo. Deve ser complicado viver num mundo alheio ao encantador universo das letras. Restringir os seus dias da indescritível experiência de ser leitor.

Não lembro exatamente com quantos anos comecei a ler.  Minha memória é cheia de imprecisões. Mas, lembro-me da sensação, de uma quase euforia ao conseguir decifrar aquelas enigmáticas sequências de letras. Daí por diante, não sei como, aquilo passou a fazer parte de mim. Na adolescência então, foram muitas horas dedicadas aos livros.

Agora, quando o assunto é escrever, a conjuntura muda completamente. Apesar de sempre ler, nunca consegui alcançar o mesmo nível de realização ao escrever. Retirando aqueles “deveres de casa” quase nunca, espontaneamente, me dediquei à escrita. Claro, são coisas completamente diferentes.

Geralmente, não gostamos do que escrevemos. É preciso ter muita autoestima para concluir um parágrafo e não achá-lo tão cheio de defeitos quanto você mesmo. Deve ser por isso! É culpa  dessa velha mania de perfeição que nunca se concretiza; esse ideal de eu que, sorrateiramente, escorrega para a análise que faço das minhas palavras e tropeça ao perceber a distância entre os meus pensamentos  e o modo com que são expressos nessa linguagem.

Por isso, é preciso ir devagar com essa vontade de divagar. Escrever não é tão “fácil” quanto ler. Escrevemos o que pensamos e, em muitas das vezes, nem o que pensamos está claro. É a tão encantadora e, ao mesmo tempo, perturbadora querela da vida; a velha dialética. Esses grandes escritores são pessoas iluminadas. Consigo ver uma aura de sabedoria, um quê de superioridade que causa uma inveja em nada branca.

Mas, às vezes, a inspiração vem. Não sei como, mas chega. Precisamos aproveitar essas raríssimas oportunidades. É assim em quase tudo na vida. Só precisamos ter papel, caneta e contar com a criatividade, porque a borracha, essa nem sempre é possível utilizar.

segunda-feira, 13 de maio de 2013

Nas portas da indecisão.


Fui pra Ribeira. Domingo. Circuito Cultural. Para quem não sabe a Ribeira é o bairro mais antigo de Natal, digamos que o berço dessa cidade quase quingentésima. Percorrem esse dito circuito os mais diversos tipos de pessoas. Roqueiros, os que curtem reggae, funk, samba, música eletrônica, além dos intelectuais e de muitos indefinidos. Só para não esquecer, tem os maconheiros que estão em todos esses grupos, felizmente.

Ao contrário do que o estereótipo construiu os mais bem educados (“intelectuais”), doutos e cultos são os menos interessantes e educados (relevem minha generalização preconceituosa). Eles costumam sentar num café, com ares de elite francesa, regado a música clássica e pose de leitores absortos e superiores aos demais grupos que, ironicamente, frequentam o mesmo ambiente.

Fui de preto, camisa preta, calça jeans um pouco velha e um all star. Os meus amigos e a minha namorada também, nesse mesmo estilo. Nem sou tão roqueiro assim, mas achei mais prudente ir vestido ao estilo.

Para não tornar o texto descritivo demais, vou direto ao ponto: fui vítima de um dos maiores insultos da minha vida. Uma dessas frequentadoras que, aparentemente, ´parecia fazer parte daquela elite, teve a ousadia de dirigir-me a mim nos seguintes termos: “... a porta não é um bom lugar para ficar indeciso”... , num tom tão áspero e inquisidor que, imediatamente, tentei revidar. Ela, porém, foi mais rápida, imagino eu por conhecer muito bem aquele espaço, e, num piscar de olhos, sumiu, sem dar-me o direito da réplica.

A indignação deu-se tanto pela má educação, quanto pela ousadia em falar sobre a minha indecisão. Ora, eu já passei por três cursos de graduação para, finalmente, decidir sobre o correto; já morei em quatro cidades; já pertenci a grupos religiosos, hoje não frequento mais a igreja; já gostei de Padre Marcelo Rossi e, hoje, escuto Android Sem Par; como ela descobriu que sou indeciso só por me ver, 5 segundos, parado na porta? Ela não podia ter dito isso. Não tinha o direito.

Além disso, a indecisão faz parte da natureza humana. Ela devia saber que, também, é indecisa. Deve ser aquela coisa de criticarmos nos outros o que temos em nós. Deve ser isso mesmo.

No Eletro Cana (um barzinho bem “barra pesada”) ninguém me criticou pela minha indecisão em entrar. Da próxima vez, não me aproximarei mais daquela “elite”. Eles têm cheiro de elite, gostos de elite e devem ser muito decididos. Gente decidida não está com nada. Vê-se pelo exemplo dessa garota.

No mais, é um evento que recomendo. As pessoas precisam ver pessoas diferentes, só assim, talvez, elas passem a pensar diferente e quem sabe, um dia, não critiquem os outros por serem indecisos. Respeite a minha indecisão que eu respeitarei seu nariz arrebitado.


terça-feira, 7 de maio de 2013

" O vazio Artístico"


Não sei falar sobre temas sérios. Fico tentando, tentando, mas é muito chato. É aquela velha coisa de ter argumento, ser persuasivo que aflige minha mente dispersa e hiperativa. São muitos porquês, muitas razões, muitas ilustrações. Estas são as piores, só dificultam. A habilidade que me falta de compreender imagens é algo irritante. Passo horas, dias, meses, anos até algumas fazerem sentido.

Mas aí dizem que o sentido quem atribui somos nós. É o seu eu. Sinto-me pior ainda. Eu não tenho a capacidade de atribuir sentido? Como assim? Meu polegar opositor está aqui, meus giros e sulcos cerebrais estão todos (pelo menos espero) no canto certo.

Os artistas são essas pessoas incríveis. Por muitas vezes chego a acreditar que quem não tem o cérebro funcionando direito são eles. Eles pensam umas coisas estranhas. Cantam umas coisas estranhas. Escrevem coisas mais estranhas ainda. E, quando desenham, conseguem nos chocar ainda mais. Não sei de onde surge essa capacidade/habilidade, muitos menos se será possível, algum dia, determiná-la. É coisa sobre humana mesmo, no sentido mais literal das palavras. Um misto de autismo com criatividade e uma dose, enorme, de autenticidade. Arrisco essa receita.

Deve ser muito bom viver em um mundo no qual a autodeterminação é a única lei. Esse povo deve viver assim, senão como eles conseguiriam ver essas coisas que eu, mero mortal, não consigo? Ainda bem que existem as notas de rodapé. Elas me elevam, em parte. Eu só consigo ver o que está escrito lá. Nada mais. Fico nesse “vazio artístico”.

Aí, me refugio no seguro. Procuro a única das artes capaz de despertar, em mim, uma significação.

Tenho inveja dos artistas, dos pintores, dos cantores, dos escritores, dos instrumentistas e das pessoas criativas. Porém, em certos momentos, tenho mais inveja, ainda, de quem consegue compreendê-los. Ver o que está implícito (e até explícito) nas suas obras.

No fundo meu único argumento é esse: precisamos de mais educação artística e menos educação religiosa. 

quinta-feira, 2 de maio de 2013

Entre a vida e a morte.


Eu não sei valorar a vida. Sei que, cotidianamente, ela está sendo desvalorizada. Meu julgamento não é moral nem, muito menos, médico/biologicista. Mas, é o que parece. Não vou falar sobre a gênese da violência urbana e de seus determinantes histórico-sócio-culturais. Isso é tema para redações de vestibulares.

Falo sobre a vida do ponto de vista vivencial. Do nosso dia a dia. Por isso, é impossível pensa-la sem a morte, até por que, somos seres para a morte. Quando criança era muito difícil compreender a ideia de finitude.  Hoje é mais complicado ainda. Não sei como se formou esse temor frente a mais irremediável das patologias humanas. É um sentimento meio que universal. A maioria das pessoas o tem. Temos medo da nossa morte e da morte das pessoas próximas. Os animais superiores (com córtex frontal rudimentar) sentem a morte dos seus semelhantes, mas, também, matam. Eles são predadores e predados. Protegem-se atacando.

E esse dilema (ser predador e caça) parece que persegue os seres humanos. As guerras estão ai pra isso. Os noticiários de jornal também. Os dados assustam, as estatísticas chocam e as funerárias comemoram. Tornou-se banal, não choca mais. É só mais um. E todos os dias são, apenas, mais alguns. Não são próximos da maioria de nós. Talvez, por isso, não sintamos. Mas, são muito próximos. São nossos semelhantes, não do ponto de vista cristão, mas evolutivo.

São pessoas com os mesmos medos, as mesmas esperanças, os mesmos questionamentos, as mesmas características físicas, capazes de desempenhar as mesmas funções que desempenhamos. Mas, não são. Não as vemos assim. São números. São a caça.

Queria muito entender os predadores. Sei que existem explicações. Muitos artigos científicos já foram escritos, muitas pesquisas longitudinais e randomizadas. Muitos banners apresentados, muitas revisões de literatura e teses de doutorado. Nada me convence. Queria ouvir relatos reais. Uma explicação. As razões racionais e irracionais. Nós podemos compreender. Somos humanos, eles também são. Não, não estou defendendo. É mais um apelo para a difícil arte de ouvir.

É clichê, é lugar comum, mas a sociedade molda e nós somos a sociedade. Somos culpados em parte. Claro, existem as inclinações individuais. Elas são 50%, os outros 50, somos nós. Devemos assumir esse lugar.

Está ficando cada vez mais difícil viver hoje em dia. Temos tecnologia para prolongar nossas vidas por muitos anos. Entretanto, não sabemos conviver. Estamos morrendo de outro modo. Um modo mais difícil de curar. O agente etiológico dessa doença não é de difícil determinação e, apesar de conhecermos o patógeno, teimamos em não usar o antígeno adequado. Nossa imunidade está acabando. Precisamos, rapidamente, de uma vacina.