O meu hiato literário é sempre reflexo de um período de aridez
intelectual que acompanha, paradoxalmente, o cotidiano da minha vida acadêmica.
Apesar de completamente entusiasmado com o meu avançar no campo das Ciências
Médicas, sinto que cada vez mais me afasto de outras formas de pensar e
analisar as coisas da vida. Vivo dizendo que a universidade nos faz perder a
capacidade de poetizar, e é verdade.
Seres pensantes pensam. E pensar envolve
dois movimentos básicos, porém opostos: decompor e recompor. Imaginemos quaisquer
situações, das mais simples a mais complexa, e vejamos de forma prática como se
processam essas ações. Uma situação nova sempre causa espanto e estranheza.
Nossa mente não consegue alocar a novidade numa caixa já pronta de conceitos.
Nesse momento, precisamos decompor e fragmentar o "novo" em partes
com geometria e forma capazes de penetrar nos pequenos espaços vazios das
nossas caixas mentais pré-fabricadas. Decompomos e decompomos até fazer sentido
para nós, ou não. Decompomos para recompor. A recomposição nada mais é do que a
"adequação", o colocar na forma, na nossa forma.
A forma (fôrma) do outro, raramente,
consegue se encaixar na nossa. Sempre consideramos a nossa mais adequada. Temos
essa necessidade. Não somos culpados. O nosso egocentrismo faz parte de uma
característica evolutiva que remete a necessidade de sobreviver. Precisamos
acreditar em nós (isso não é autoajuda!).
As universidades são esses lugares que me
envergonham. Não se encaixam na minha forma. Elas, ao invés de expandiram,
limitam. É tudo tão dividido, tão cêntrico. Tornou-se utopia acreditar que o
conhecimento é algo unificador. Formamo-nos (ou seja, somos colocados em uma
forma) e nos separamos das demais formas, ficamos conformados. O nosso
movimento é sempre no sentido da especialização. Doutorados são feitos em um
"canto de unha" e o "doutor" nem sabe o nome do dedo (nem
na classificação de Eliana). Mais uma vez: não somos culpados. Dessa vez, podemos
ser.
Sempre me disseram que após os 30 anos um
dos fatores mais determinantes para a completude do sentimento de realização
pessoal é o sucesso profissional. Não é o sucesso do conhecimento. Esse passa
longe. O conhecimento passa longe das universidades que nos formam para esse
sucesso profissional. Vivemos essa ilusão do saber, mas este nos engessa e
molda.
A decomposição deveria seguir-se a
recomposição em uma nova forma. Entretanto, incorremos no erro de querer sempre
encaixar no pré-pronto. Por isso, muitas vezes, ao pensar ou vivenciar coisas
novas, só reforçamos nossos preconceitos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário